Intervenção psicológica depois da guerra

criança guerra

A perturbação Pós-Stress Traumático

Após trinta e três anos de guerra civil em Angola torna-se necessário fazer um diagnóstico das consequências que esta teve ao nível psicológico dos habitantes deste país, principalmente dos que residem nas áreas mais afectadas pela guerra.Neste pequeno artigo irei apenas referir-me a uma das consequências psicológicas que normalmente advêm das guerras: Perturbação Pós-Stress Traumático.Estima-se que, geralmente, quando os indivíduos são expostos a um acontecimento traumático, ou seja, quando são confrontados com um acontecimento grave, que por vezes possa colocar a sua vida em perigo, estes indivíduos têm uma maior propensão a desenvolverem este tipo de perturbação. ','

Poderemos diagnosticar a perturbação pós-stress traumático nos cidadãos angolanos caso estes reexperienciem o acontecimento traumático (momentos vividos durante a guerra, fuga, violações, etc.) da seguinte forma: lembranças perturbadoras intrusivas e recorrentes dos acontecimentos que incluem imagens, pensamentos ou percepções; sonhos perturbadores recorrentes acerca do acontecimento; actuar ou sentir como se o acontecimento traumático estivesse a recorrer; mal-estar psicológico intenso com a exposição a estímulos internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a aspectos do acontecimento traumático; reactividade fisiológica (tremores, suores) durante a exposição a estímulos internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a aspectos do acontecimento traumático.

Dever-se-á ainda ter em conta o facto do indivíduo evitar, de forma persistente, os estímulos associados ao trauma, como, por exemplo, evitar pensar ou falar sobre os momentos vividos durante a guerra. Normalmente estes sujeitos poderão ter expectativas de vida muito curtas em relação ao futuro, isto é, poderão apresentar uma certa dificuldade em planear a sua vida a longo prazo. Poderão também não ter vontade de participar em nenhum tipo de actividade, sentirem-se estranhos em relação aos outros, serem incapazes de se recordarem de acontecimentos relacionados com o trauma ou até evitarem participar em actividades, lugares ou pessoas que os façam recordar do trauma experienciado.

Os sujeitos poderão também manifestar dificuldades em adormecer ou em manter sono, irritabilidade ou acesso de cólera, dificuldades de concentração, poderão estar constantemente vigilantes e desenvolverem uma resposta de alarme exagerada, um pequeno acontecimento (ex, o som dos tubos de escape) poderá fazer com que emitam uma resposta de susto exagerada.

Esses sintomas poderão ter repercussões em todas as áreas da vida do indivíduo, perturbando o seu funcionamento. Por isso, torna-se imprescindível não só o levantamento, mas também o acompanhamento e o tratamento psicoterapêutico desses indivíduos.ç

 

Bibliografia:

American Psychiatric Association.(2002). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Lisboa: Climepsi Editores.

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