Os Sete Pecados Capitais de Isaías Samakuva

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1. Desatenção e falta de visão estratégica

Este pecado pôs-se de manifesto logo após o término da guerra com a morte do líder fundador do partido e consistiu em que a semente (resolução da contradição nascida entre as três alas do partido) que iria fazer florescer a Unita murchou antes de ser lançada ao solo. O renovadores, liderados por Eugénio Manuvacola e os conservadores vindos do maqui, liderados por Lukamba Gato, foram subalternizados pelos elementos da Missão Externa, liderada pelo próprio Isaías Samacuva. Isto fragmentou o partido  e, pior que tudo, propiciou a deserção de alguns dos quadros para o MPLA.

2. Regionalismo, amiguismo e familiarismo

Logo após a vitória de Isaías Samacuva, num dos Congressos em que foi eleito democraticamente, notou-se uma tendência que viria a perigar a união do partido,  que foi a de acomodar pessoas mais próximas, muitas delas ligadas com laços familiares, afectivos ou  regionais ao presidente. É de recordar que, no último Congresso onde Samakuva concorreu com Abel Chivucuvucu para a direcção da Unita, se ouviu, pela primeira vez e da forma menos velada, expressões como Bienos vs Huambo, obviamente  algo de pouco abonatório para um partido que se quer nacional. Tal situação viria a ser mais visível na lista de deputados proposta por Samakuva para a Assembleia Nacional. Nela o critério de escolha para a posição na lista baseou-se mais na convergência de ideias (militantes sim-sim) que propriamente na capacidade, competência e espírito crítico (mesmo interno)  demonstrados. De modo que,  muitos dos melhores quadros foram relegados para último plano. Actualmente, assiste-se a uma movimentação para o reajuste de certos nomes o que revela quão grande foi esta falha.

3. Propensão a clone

O fazedor da política é, na sua essência, um artista que representa um papel consoante os atributos da sua própria personalidade. Isaías Samukuva, em vez de criar um estilo próprio que todos bem conhecem e que foi posto de manifesto exemplarmente aquando da Comissão Conjunta, decidiu-se por vestir a pele do Dr. Savimbi, chegando ao ponto de o imitar (algo impossível) a nível da postura, dos dizeres, até do tristemente célebre slogan “o nosso galo voa”, esquecendo-se que o novo eleitorado é, maioritariamente, constituído por jovens nascidos nos anos 80 e 90 para quem o Dr. Savimbi é o que diz o governo do Mpla e o slogan “o nosso galo voa” é nada mais que descabido.

4. Liderança imberbe

Liderar, para um político (e não só), é influenciar os outros para os levar a agir (quer queira quer não) no sentido de se realizarem os objectivos do grupo ou da organização. Torna-se, para o efeito, necessário conhecer, em cada momento histórico,  as potencialidades de cada membro do partido para ser colocado no local certo. Este pecado foi gritante sobretudo nas últimas eleições onde se apostou em elementos que tendo demonstrado grande capacidade a nível militar, eram, em questões políticas, praticamente um zero à esquerda, e muito pouco convincentes no que diziam e faziam. E mais grave ainda: grande parte dos intelectuais da Unita que granjearam respeito e admiração, em Angola, foram completamente ignorados. A campanha eleitoral reduziu-se, no fim,  a apenas a duas pessoas; o presidente e o secretário do partido.

5. Assumpção de responsabilidades alheias

Uma prática herdada do sistema do tipo "comunismo primitivo" que reinou na Jamba (e não só) levou a que, contrariamente a Fnla que havia herdado a mesma situação, a Unita herdasse uma estrutura gigantesca e pesada a que não podia fazer frente com os parcos fundos de que dispunha. A impressão que ficou a muitos quadros do partido e antigos combatentes foi de que a Unita os havia abandonado, enquanto a responsabilidade por tanta gente não podia ser, de forma alguma, da Unita, mas sim do governo. Daí terem-se verificado cenas caricatas protagonizadas por grandes figuras da Unita, (algumas históricas) que desertavam para o Mpla sob a alegação de que este partido lhes apoiava na formação dos filhos e na alimentação.

6. Falta de ousadia

Este pecado pôs-se de manifesto sobretudo na manutenção dos quadros da Unita, altamente capacitados e com uma performance reconhecida e caucionada pelos angolanos, no Gurn (Governo de Unidade e Reconciliação Nacional). É o mesmo que dar o ouro ao bandido. Assim, numa altura em que se tornava necessário afastá-los para, realmente, fazerem oposição ao partido no poder, mantiveram-se nele e muitos deles, consciente ou inconscientemente, foram os artífices de algumas das obras que o governo do Mpla utilizou contra a própria Unita para cativar votos. Também está ligado a este pecado, a pouca capacidade de produzir acontecimentos, para além da polémica inovadora em que se acusava José Eduardo dos Santos de agir como Salazar.

7. Reduzido senso autocrítico

Falta da capacidade de assumir os erros com acções assentes no autoquestionamento sobre as próprias virtudes e defeitos e relacioná-los com o tempo histórico. Este pecado irá marcar, irremediavelmente, a vida política deste homem, mas também diga-se em abono da verdade, é uma herança não só da própria Unita, como também dos fazedores da política angolana e africana em geral em que manter-se no poder se tornou uma espécie de patologia.

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