A origem dos ovimbundu: contribuições de Hambly, Wilfrid Dyson (parte II,cont.)

bantu

Tradução do Inglês por Mbela Isso

Através da maneira como os Jagas Aspergem o sangue dos animais sacrificados sobre uma fogueira, descrevi como este rito se relaciona com os ritos de celebração dos Ovimbundu que encontrei na nova aldeia. Os jagas realizavam esta cerimónia antes dos raides e quando as vacas e outros animais eram sacrificados (Batell, p. 33). Battel refere-se ao uso, com fins decorativos, de um pau vermelho (tukula). Estes troncos (Pterocarpus tinctorius) podem ser encontrados actualmente em muitas partes de Angola.

               A referência a Battell confirma a informação que me foi dada sobre o fragmento de ferro velho de um tantã obtido em Ngalangi, que é um instrumento de guerra com um som semelhante ao de um sino.

               Battell reporta-se ao facto de os Jagas usarem colares feitos da casca do ovo de avestruz. No entanto, Ravenstein, o editor desse volume no Hakluyt Series, põe isso em dúvida, dizendo que “não há avestruzes em Angola e, como tal, não posso dar uma explicação sobre o uso dos colares de avestruz pelos Jagas”. Deparei-me com avestruzes capturados no sudoeste de Angola, mais precisamente nos Gambos. As mulheres Vakuanyma dão um grande valor aos seus longos colares feitos de cascas de ovos de avestruz. Estes colares são feitos no Norte de Angola e comercializados no Sul. Cada peça possui um custo elevado pelo facto de ter sido feita em locais muito distantes. Este facto, tal como outros, confirmam a fidedignidade das observações de Battell em Angola.

               Father Jerome Merolla (1682) refere-se ao ordálio praticado na região que vai do estuário do Congo até S. Salvador (Churchills' Voyages, II, p. 675). O mesmo era administrado para o suspeito acusado de feitiçaria. O veneno era um composto feito de ervas, carne de serpente, polpa de frutos, misturado com outras coisas que eram dadas ao suspeito para beber. Se ele era culpado (conforme a acusação) tombava sem sentidos ou caía, aos estremeções, no solo. Usava-se a marimba e o tantã de ferro antes de ele ser agredido pelo assistente.

               Dapper (Description de l'Afrique, 1732, p. 369) mostra uma cena onde aparece um machado semelhante a um que consegui na região dos Vasele que era  usado para decapitar pessoas.

               Cavazzi (Istorica descrizione, etc., Bologna, 1687) descreve três reinos, ou seja, do Congo, da Matamba e do nordeste de Angola. O ordálio de veneno, o bode expiatório e o fole do ferreiro são bem conhecidos pelos Ovimbundu. Os instrumentos musicais feitos através de uma grande abóbora com uma predominância que se toca com uma vara, são do tipo que eu coleccionei. Outras  gravuras de Cavazzi (p.214) são o tantã de ferro e os tambores mantidos pelos joelhos. Ele também mostra o dono da chuva e o sacrifício de duas centenas de pessoas aquando da entronização do rei.

               Na literatura mais recente tem sido destacada a história do milho, em África, tal como outros cereais que são produtos de marca da agricultura dos Ovimbundu. Estou em dívida com o Dr. Berthold Laufer pelo acesso que tive a este material não publicado.

               A partir dos factos acima referido podemos assumir, com toda a certeza, que a cultura do milho, entre os Ovimbundu, provém da região do Congo antes da imigração deste grupo para a meseta de Benguela.

               Father Jerome Merolla faz notar que o milho desenvolveu-se nas regiões vizinhas de S. Salvador (1683-92). O nome nativo a ele atribuído é mampunni  e massambuta. A partir desse cereal é preparada uma bebida alcoólica.

            Segundo Cavazzi (Ehrmann, Geschichte der merk- wiirdigsten Reisen, XIII, 1794) o milho não era cultivado tão intensamente pelos negros da Baixa Guiné embora cresça bem e pode ser cultivado três vezes por ano. Segundo os nativos, os cereais foram trazidos  pelos portugueses, mas eles não estão seguros disso, e usam-no como alimento para os porcos.

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