Miragens e Delírios de JES e do MPLA (I)

eduardo dos santos

O MPLA sempre habituou os angolanos a viverem na utopia. Desde a independência, os angolanos foram adestrados a viver a realidade sob a forma de ficção; basta recordar a grande utopia socialista que, matizada por um fervor revolucionário, eclodiu logo após a queda do regime colonial. Por mais incrível que pareça, muitos dos angolanos acreditavam piamente no lema: "Angola é a trincheira firme da revolução em África", que, por outras palavras, significava que Angola era, nada mais, nada menos, que a rampa de lançamento da iniciativa revolucionária para a construção da "República Soviética da África do Sul" e da "República Soviética dos Estados Unidos da América". Só que as utopias não passam disso mesmo. São utopias e nada mais. ','

Infelizmente, ainda hoje o MPLA e o seu presidente JES não conseguem descartar-se de utopias, que se converteram em autênticas miragens e delírios. Assim, dando gato por lebre, vão contagiando os angolanos menos atentos, com essas utopias e miragens.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, diz o poeta, mas, em Angola apenas mudam os tempos , pois as vontades (de olhar e servir o povo) permanecem estanques: o povo apenas sorri, porque, a maior parte, inebriado com promessas utópicas, sonha alegre com um amanhã que, provavelmente, nunca chegará.

Este mundo fictício, construído à medida da ambição desmedida do MPLA e de JES,  teve, desta vez, a seu ponto culminante nas eleições legislativas acabadas de realizar. O MPLA construiu a imagem, igualmente fictícia, de que a sua  vitória fora retumbante, arrasadora, esmagadora, dada a maioria qualificada obtida e o mplabeneplácito  da CPLP e da EU consentidos. No primeiro momento, o mundo, pese embora algumas irregularidades observadas, ainda chegou a acreditar. E, para não variar, o MPLA e JES não tardaram em criar outra ficção: a ideia de que o povo angolano de Cabinda ao Cunene se revia por completo nas cores vermelho e negro da sua bandeira, dado os 81,8 por cento conseguidos. O Mpla é, portanto, o partido da maioria dos angolanos.

Contudo, tal como no passado, desenvolvimentos posteriores vieram a mostrar que tudo não passava de uma miragem com delírios a raiar o patológico. É que, embora logo após a proclamação dos resultados eleitorais vozes pré-claras se levantassem a denunciar as irregularidades verificadas, outros estudos vieram a dar-lhes razão ao ponto de se lamentar do facto do MPLA e JES acreditarem na sua própria mentira.

O primeiro golpe veio da auditoria[1] feita pela UNITA, até ao momento não desmentida pela CNE. De acordo com a mesma, as eleições legislativas de 2008 pecarem e foram fraudulentas por se ter verificado a violação dos maços de 100 unidades e a custódia, gestão e distribuição dos boletins de voto e das acta pela casa militar do Presidente da República e a firma Valleysoft, estranhos à CNE. Esta estratégia permitiu a criação de mais de doze mil mesas fantasmas, permitindo a manipulação de mais de três milhões de votos. Será escusado dizer que foram, assim, violados o direito eleitoral e sobretudo as liberdades e os direitos dos cidadãos.

O segundo golpe veio do relatório da União Europeia[2] que, por interesses geoestratégicos que tão bem se conhecem, veio a dar o dito pelo não dito, revelando graves lacunas e falta de clareza nos regulamentos que ordenam dois aspectos fundamentais no exercício do sufrágio: a utilização efectiva e obrigatória dos cadernos eleitorais em todas as mesas de voto assim como os procedimentos para o exercício, transmissão e contagem dos votos especiais.

Apesar disso, uma análise atenta dos dados publicados pela CNE também permite chegar às mesmas conclusões: Os dados mostram que dos 8.256.584 eleitores registados, apenas 5.226216 (votaram no MPLA) tendo 3.030.368, votado noutros partidos ou  serem votos  nulos, brancos e inválidos. Se pegarmos nesses dados reais  e relacionarmos com os cerca de três milhões manipulados, conforme a auditoria da Unita, pouco ou quase nada resta para o MPLA.

Esta maneira desregrada de fazer política faz pensar em, Ícaro, uma personagem da mitologia grega, cujo pai Dédalo, ensinou a projectar asas para voar, juntando penas de diverso tamanho e fixando-as com cera. No fim, aconselhou-o de que ao voar,  deveria fazê-lo a uma altura média, evitando assim o sol que o poderia queimar e o mar que o poderia molhá-lo e desfazer, assim, a cola. Mas a sensação de poder levou Ícaro a voar demasiado alto de modo que a cera que fixava as suas asas derreteu e acabou por cair e morrer nas águas do mar Egeu.

Na verdade, é essa sensação de poder que um dia fará com que o MPLA queime as suas asas. E talvez aí se aperceba quão a realidade é distinta da ficção.

 

 


 

[1] Relatório de auditoria às eleições legislativas de 5 de Setembro: uma contribuição para a realização de eleições livres, justas e transparentes em Angola, Novembro de 2008.

[2] União Europeia (Missão de Observação Eleitoral). Relatório Final, eleições parlamentares de 5 de Setembro de 2008.publicado aos 21 de Setembro de 2008.

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